ENTREVISTA COM O DEPUTADO FEDERAL Jean Wyllys

18/01/2014 21:37

UAA: Por que é tão difícil aprovar legislações específicas em relação aos direitos gays no Congresso? A PLC 122, chamada de lei contra a homofobia, e a legalização do casamento igualitário, por exemplo, não conseguem avançar…

Jean Wyllys: Porque os direitos LGBTs fazem parte do que se convencionou chamar de “causas polêmicas”. Existem as causas unânimes, como os direitos das crianças, o meio ambiente e o direito dos idosos, e, destas causas, nenhum parlamentar pensa duas vezes antes de dizer – ainda que da boca pra fora – que são a favor, já que existe uma unanimidade em torno dessas causas. Quem tem coragem de dizer publicamente que idosos querem “privilégios” quando reivindicam seus direitos? Quem tem coragem de dizer que crianças não merecem proteção especial? Os que falam algo parecido, quando falam, referem-se apenas às crianças pobres e infratoras… Quem tem coragem de dizer publicamente que é a favor de que se exterminem as araras-azuis e as espécies de árvores da floresta tropical? Ninguém! Nem mesmo os imbecis odiosos que são hoje os porta-vozes da direita reacionária brasileira (surpreendentemente composta sobretudo por uma juventude analfabeta funcional e sem repertório cultural) e que ocupam tribunas na Veja, Folha de São Paulo, Band e nas redes sociais, porque o dano à imagem de quem defende essas barbaridades é grande! Mas muitos desses parlamentares e porta-vozes da direita reacionária se colocam publicamente contra a cidadania LGBT, alguns defendem abertamente o extermínio de homossexuais e me acusam de querer “privilégios” quando reivindico os direitos da comunidade LGBT. E o fazem por quê? Porque não há dano à imagem pública desses canalhas, já que os preconceitos contra os homossexuais são reproduzidos há tanto tempo e por tantas formas que se enraizou na alma da maioria dos brasileiros. Esta é a principal explicação para a dificuldade na aprovação de leis em favor da cidadania plena de LGBTs. A homofobia é tratada como uma questão moral e não como uma questão da violação de direitos humanos, de liberdades civis. Muita gente acha que é legitimo alguém perder direitos ou ser violado nos seus direitos humanos por ser homossexual. Este é o mesmo pensamento que já norteou, por exemplo, a violência contra os negros e contra as mulheres. Muita gente achava que era legítimo e “natural” que as mulheres não votassem, porque elas seriam “naturalmente inferiores” – um pensamento que hoje é rechaçado por ser absurdo e que por muito tempo foi sustentado por políticos.